segunda-feira, 16 de março de 2009

sobre a via láctea, dinossauros e o fundo do poço


O aparelho de CD de casa pifou há uns bons meses. Nele só é possível, agora, ouvir rádio ou fita K7 (alguém ainda se lembra disso?). Após tentativa frustrada de sintonizar qualquer coisa em qualquer estação, resolvi ressuscitar uma velha fita de rocks antigos que marcaram um período, talvez o início dos anos 2000. Sei disso porque, em meio a uma e outra música que embalava uma folgada manhã em São Paulo, a fita é cortada ao meio e, criminosamente, começa a tocar Djavan, naquele acústico lançado, se não me engano, em 2001, e que vendeu feito água.
Sei que corro o risco de ser chamado de iconoclasta por essas e outras, mas toda vez que escuto Djavan lembro de um amigo que, certo dia, no bar, desenhou uma espécie de ranking da música popular brasileira. E explicou que, em sua avaliação, existiria a música boa, média, ruim e abaixo, bem abaixo, haveria o Djavan.
Achei exagero. Mas, ouvindo o clássico "Se", lembrei de outras peças que me fazem pensar como um cara que entoa "mais fácil aprender japonês em braile do que você decidir se dá ou não" conseguiu gravar com gente da estirpe de Chico Buarque e Beto Guedes _ok, devo dizer que gosto da parceria dele com o Jairzinho e a "Turma do Balão Mágico", em que ele canta "sou feeeeeeeeeeeeliz por isso estou aaaaaaaqui".
Não sou crítico de música nem de cazzo algum, e até reconheço que a voz do cara dá um verniz interessante a letras que, a princípio, parecem embalar bons sentimentos. Mas é só tirar a voz e pensar no que estamos cantando e logo temos a impressão de que estamos lendo mensagens em paredes de banheiro mal envernizadas. Exemplos:"Tudo que Deus criou pensando em você. Fez a via láctea, fez os dinossauros..." (esse mesmo amigo do bar disse ter perdido dias de sua vida imaginando Deus olhando carinhosamente para um Tiranossauro-Rex e se inspirando pra criar uma, digamos, Dercy Gonçalves)
ou
"São Jorge, por favor, me empresta o dragão"...
ou "Insiste em zero a zero, eu quero um a um".
ou o "Te devoraria tal Caetano a Leonardo DiCaprio".Sem contar o final daquela música, insuportável, "Lilás": "Eu quero ver o pôr do sol lindo como ele só, e gente pra ver e viajar no seu mar de raio raio raio raio".
Nossa, como é ruim. Se alguém tiver estômago, espere só o final da música e conte quantas vezes ele repete isso, tentando nos ganhar.
Mas voltando ao dragão, lembro quando descobri na internet um funk pesadão, daqueles proibidões, que dizia o seguinte:
"A Chatuba come cu e depois come xereca, ranca cabaço, é o bonde dos careca / Máquina de sexo, eu transiguanimal, a Chatuba de Mesquita no bonde sekisoanal (sic) / Moleque playboy, funkeiro sekisoanal (sic), a Chatuba de Mesquita come a mina de Geral".
Até aí, podemos pensar que a música chegou ao fundo do poço. É o que todo mundo pensa e diz mesmo. Quero ver alguém dizer que o fundo do poço já tinha sido cavado pelo Djavan antes. Quer ver? Basta dizer que, no funk, há uma expressão crítica de um grupo oprimido e sem perspectivas de ser agraciado no fim do ano com uma bolsa no Prouni e resolve reafirmar sua identidade por meio da música, enquanto homem que vê na conquista da relação sexual (no caso, com as mulheres do grupo rival, de Vigário Geral) a moeda que lhe permite reivindicar uma autoridade e o controle de uma área adversária notadamente dominada pelo tráfico, pela luxuria e pela violência. Viu só: a música começa com cu, e termina com a realidade da juventude transviada expressa em letra, música e putaria.
Mas e o dragão? Que caralhos o Djavan queria com o dragão?
Meu amigo do bar pode até ter exagerado. Mas eu ainda fico com a Chatuba.

6 comentários:

Anônimo disse...

Que raio, raio, raio, raio, raio de músicas são essas???
São mais bizarras do que dinossauros fora da Via Láctea.
Eu concordo com você. Mas fico com o Leonardo DiCaprio.

Sil S. disse...

Eu fico com a Chatuba também. E quando eu penso nessa passagem do dragão eu imagino o Djavan catando uma mina muito feia - é a única explicação plausível!

Mariana Machado Hirche disse...

A única certeza é q o Caetano devoraria o Leonardo DiCaprio. Mas isso ele copiou do Milton, quando ele declarou musicalmente que devoraria o River Phoenix. Logo, a única coisa boa que o Djavan fez (depois do dueto com a Simony) foi plágio. Enfim, minha mãe conta que quando eu era criança eu adorava "Açaí, guardião. Zum de besouro, imã. Branca é a tez da manhã"...

Cris disse...

Mas quando a gente é criança gosta mesmo de Djavan, Mariana. Quem mais canta sobre dragões, dinossauros, planetas e todas essas coisas mágicas e bregas?
Criança gosta!
Depois nossos neurônios vão se desenvolvendo, a gente aprende a fazer ilações, descobre o que são rimas baratas e conhece música de verdade.

Mas, de todo o post, o melhor é a dúvida: por que diabos Djavan faz sucesso e ainda toca com gente da melhor estirpe? O que deu naqueles caras pra se sujeitarem a isso? Dó?

No mais, um comentário que eu não poderia deixar de fazer: EU ESCUTO FITAS K7! Meu carro, inclusive, tinha toca-fitas em vez de CD Player. E há cada pérola...!

bjos

Anônimo disse...

O Djavan é a prova de quanto a MPB às vezes pode ser desinteressante. A Chatuba de Mesquita prova o quanto o Brasil hoje é um fracasso, apesar de tudo.

Jairo disse...

Matheus, amar é um deserto e seus temores... Afinal, pai e mãe, desejo e sina... córação.. pura rotina... tudo mais. Valei-me, Deus... é o fim do nosso amor... perdôa, por favor... aff... Abraço apertado do jeito que vc gosta.. ui