terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

o ano que não terminou



Wanderley Luxemburgo pode queimar a língua, mas parece convicto de que esse time que está levando a campo no início da temporada é bem parecido com a sua equipe de 1996. Para quem não se lembra, o Palmeiras daquele tempo, também comandado por ele, atropelou o que encontrou pela frente, foi quase campeão paulista invicto (sofreu uma só derrota, para o Guarani) e chegou à marca de cem gols em um único torneio. Pintou, bordou e morreu jovem, quando Müller, pivô do time e em sua melhor fase, se transferiu para o São Paulo na metade da temporada - sem disputar a final da Copa do Brasil, na qual o time foi derrotado para o Cruzeiro.
É cedo, ninguém ganhou ou provou nada, mas é difícil não ir na onda de Luxemburgo, principalmente depois dos 4 x 1 sobre o Santos no último fim de semana. Problemas, sorte e erros de arbitragem à parte, o time, assim como o de 96, tinha fama de bater em galinha morta e de que não aguentaria o tranco quando visse equipe grande pela frente; todos diziam que não manteria o ritmo quando enfrentasse um time grande de verdade, e que bater na Ferroviária e Novorizontino, os Mogi Mirim e Marília da época, era missão inglória, mas fácil. Diziam que bater no Corinthians de Edmundo, craque recém-contratado pelo Alvinegro, em quem foi depositada toda a esperança da segunda maior torcida do Brasil para jogar ao lado de Marcelinho, seria bem mais difícil. É o que dizem do encontro marcado com o Corinthians de Ronaldo e Dentinho de hoje.
O Palmeiras de 96 era novo, jovem, com nomes desconhecidos...mas depois dele, todo mundo quis ser o Palmeiras de 96 quando crescesse. Houve, desde então, times bem mais vitoriosos (aquele mal durou um conto de fim de verão), mas nenhum encantou tantos em tão pouco tempo.
Este blog tem como nome "Margem de Erro", e o que se escreve aqui não tem a menor pretensão de se comprovar mais à frente. Vou de braçada na memória, ainda encantada com aquele time de 96, com o risco de errar e me lembrar mal de episódios e situações; mas não vou resistir a fazer a comparação entre o que foi, o que é e o que pode acontecer com esse time que ameaça encantar. Se der com os burros n’água, ainda posso dizer que não sou treinador do time, só um iludido abobalhado com um chutezinho fora da área que acertou o ângulo de um time boliviano. É porque ainda acho que a história se repete, nem sempre como tragédia, quase nunca como farsa. Aos tópicos:
-o goleiro titular daquele tempo, Velloso, tinha um jovem e promissor arqueiro em sua cola no banco de reservas, chamado Marcos. Titular absoluto de hoje, Marcos, assim como Velloso naquela época, teve de deixar a meta por contusão e deu chance para Bruno mostrar serviço debaixo das traves. E Bruno, como Marcos, tem dado conta do recado;
-os zagueiros (Danilo e Mauricio Ramos) são novos, desconhecidos, um deles vindo do Sul (como Sandro Brum), e vieram para se juntar a um defensor experiente e que subia à área e marcava gols com certa frequencia...alguma semelhança entre Edmílson e o Clebão?;
-o lateral-esquerdo é novo, baixinho, negro, dribla pelo meio, cai pela ponta e ainda precisa aprender a cruzar a bola na área. Assim como Junior em 96, Armero chega como titular absoluto na ala, apesar do bom trabalho feito pelo lateral reserva no ano anterior, Wagner - que, assim como Jefferson, fez apenas um, mas importante gol, com a camisa do time;
-o cabeça-de-área de hoje, Pierre, sagrou-se ídolo no ano anterior, não pela técnica, mas pela capacidade de correr, marcar e roubar bola...só que o Amaral, em 96, já tinha vaga cativa na seleção;
-o meia de apoio, recém-contratado, é dado como promessa, foi destaque na equipe antiga, chega à área com facilidade para chutes de longa distância e pode desequilibrar na bola parada. Cleiton Xavier não tem a mesma habilidade, nem é canhoto, como Djalminha, mas assumiu o posto de maestro do time e, como o ex-craque, marcou seu primeiro gol logo em sua primeira partida pela equipe;
-o meia-atacante é jovem, promissor, e quase completo: chuta de longa distancia, com os dois pés; cabeceia bem, tem bom passe, dribla como poucos, mas vem de temporada mediana, sendo criticado por prender demais a bola e demonstrar lentidão e certa preguiça em campo. Mas poucos duvidam que, inteiro e ligado, é a grande estrela da equipe. Rivaldo só deixou de ser o Diego Souza de sua época em 96, quando fez miséria, pintou, bordou e entrou de vez no rol das grandes estrelas do futebol nacional de sua época como líder daquele time;
-o jovem atacante recém-contratado brilhou no Brasileiro do ano anterior vestindo a camisa de um time verde. Chuta com os dois pés, gosta de bater pênalti, faz as vezes de pivô, cabeceia bem e gosta de buscar a bola no meio-de-campo. Assim como Luizão, Keirrison também vestiu a camisa com apenas 20 anos, marcou dois gols logo em seu primeiro jogo e, também com a 9, desponta como favorito a ser artilheiro por onde passa;
-assim como a equipe de 96, o Palmeiras deste ano também tem um meia chamado Marquinhos, que se destacou em um time rubro-negro; é um habilidoso meia-quase-ponta, que chega para ser titular, se machuca, e fica sem lugar entre os 11, ao menos no começo da temporada...só que o Marquinhos de hoje veio do Vitória, e o de ontem, do Flamengo;
-aliás, neste ano o time trouxe duas revelações vindas do Vitória: Willians e o já citado Marquinhos. Em 96, contava com Paulo Isidoro e Alex Alves, também ex-Vitória
-em 96, a torcida adorava quando o Elivelton, 12º jogador do time, entrava em campo. Sempre deixava sua marca. E os olhos da torcida brilham hoje com seu 12º jogador, também artilheiro-quebra-galho, Lenny;
-o mesmo treinador, Luxemburgo, havia assumido o time um ano antes da temporada de 96, com a missão de colocar o time nos trilhos após passagens fracassadas de técnicos que não traduziram bons elencos em títulos (Caio Jr. de ontem, Carlos Alberto Silva de anteontem);
-Galeano, mesmo reserva, tinha a confiança do treinador, assim como Jumar, bombeiro dos pontapés nas horas vagas;
Ok. Falta um Cafu na direita, e um Müller, no auge de sua experiência, no ataque. E Sandro Silva começou bem, mas ainda está longe de ser um Flávio Conceição.
E faltam muitos jogos, muitas coisas, muitos testes.
A comparação pode ser fajuta, esperançosa, talvez embotada por sete boas apresentações. Mas só de lembrar daquele time de 96, dá até vontade de ser palmeirense e gostar de futebol...

3 comentários:

Anônimo disse...

excelente texto pichonelli, muito bem lembrada as caracteriscas do grande time que tinhamos em 96, espero que esse siga os mesmo passo né, só nao venda td mundo no meio do ano, nao me recordo de muita coisas agora nao, mas se lembra de alguma coisa eu te aviso
grande abraço

Anônimo disse...

Acho que o caminho é por aí, Matheus. É certo que o texto, como você mesmo diz, não tem a pretensão de se comprovar como certeiro no futuro. Mas, a título de contribuição, o jogo de ontem contra a LDU já mostrou que o time precisa de um cara que equilibre as coisas no meio-campo em momentos de tensão. Depois que o Palmeiras tomou o terceiro gol, não houve jeito de organizar as jogadas ofensivas. O time ficou cego. Perdeu a capacidade de ler o jogo, de achar alternativas ao ferrolho montado pela LDU. Pra mim, faltou um cidadão que colocasse a cabeça do time no lugar. Essa funação seria de Marcos e Edmílson, mas como ambos falharam no segundo gol dos equatorianos, também ficaram inseguros no restante do jogo.

Anônimo disse...

Velhão, acho que aquele Palmeiras era diferente. Não era inexperiente não - tirando a zaga, todo mundo era bastante tarimbado.
Acho que o Keirrison tem futebol pra ser atacante da seleção em 2010. A conferir.