segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

sexy aos 60




A menina já passou dos 60, e suas pernas são o que nela mais chama a atenção desde pelo menos os 15. Faz o mesmo papel na novela desde que a novela foi inventada; a mesma voz, os mesmos trejeitos. Casou, se não me engano, pela terceira vez, agora com um rapaz mais novo, ex-PM, forte, bonito, baladeiro, cheio de vida, essa que ela sente se perder a cada vela soprada em seus aniversários. É o rapaz que a fez se sentir viva, renovada. Jovem, sobretudo. E que a leva ao centro do picadeiro, um picadeiro cercado de gente faminta de um moralismo revestido: “Vamos ver essa velhinha otária se foder em outro golpe do baú”.
Acendem-se as velas, confirmam-se as previsões, e logo se tem um enredo de sucesso de público e renda – com direito a declaração de apoio da amiga-cocotinha-namoradeira, em programa de culinária, ao vivo e a cores, recriminando o suposto mau-caratismo do camarada que apareceu com a outra, a namorada nova, jovem e linda, no programa da outra-coleguinha-meninota-fofoqueirinha da TV. Se querem sangue, lama ou beijo na lona não é problema meu. Aliás, sou a favor da putaria aos 18, 25, 37 e depois dos 100. Só imagino que um centenário – digamos um Niemayer – deve ter algo a mais a me contar do que o que rabisca dentro das quatro linhas. Mas se escrevo sobre isso é também para confessar: quem não leu a entrevista nas páginas amarelas perdeu uma aula interessantíssima do que é envelhecer em nossos tempos. Tendo vindo das páginas amarelas, dá um tom de importância que as revistecas da vida não conseguiram empenhar. Não foi no site de fofoquinha, mas nas páginas amarelas que aprendi, por exemplo, que “pessoas com deformidade da mente, como ele, transam muitíssimo bem”. Não aprendeu? Então que tal descobrir, também pela revista mais vendida do país, que ele se escondeu atrás da porta do banheiro para filmá-la tomando banho de touca na cabeça, que fazia close das partes íntimas enquanto ela se lavava? Tesão, né? Ou que ele pensou em chantagear, com o material, “uma estrela brasileira, como a Fernanda Montenegro e o Pelé”?
E quem poderia se importar menos? Não sou eu nem é você. A entrevista, de cabo a rabo, é uma demonstração nítida de uma pessoa apavorada, mergulhada em um medo comum apenas a quem expôs a cara ao tapa – não sem qualquer consentimento. É a lógica do reality show, em que de alguma forma todos nós estamos mergulhados, em nossas comunidades, sites de relacionamento, expressão de opiniões ou mesmo neste blog. Esse mundo que desaba quando a gente se abre para ele, e ele mostra que de fato nos quer no chão, com o nariz entupido de pó, sangrando, gritando “pede pra sair”.
O medo de não receber deste mundo os tributos em razão de uma história que só nós, e mais ninguém, damos importância. Nós, autores, atores e roteiristas de nossas próprias vidas expostas, com o pânico de que, a qualquer passo em falso, seremos flagrados – e então todos descobrirão que não somos felizes, realizados, satisfeitos, humildes, belos e revigorados como fazem supor as fotos e legendas infladas pelo photoshop.
O medo de que saibam que fomos trapaceados, que acreditamos em promessas não cumpridas e que, no fim das contas, fracassamos. A reação, instintiva, é convencer a nós mesmos de que somos vítimas, estrelas vitimadas; para isso, é preciso convencer o mundo do nosso convencimento. O que antes se fazia no bar, agora a internet pulverizou. O que é novo, me parece, é que esse medo de envelhecer, de ser passado pra trás, de perceber que não somos mais desejados nem tratados com o respeito que uma suposta celebridade merece, chegou também às páginas amarelas.
A moça, pelo jeito, pirou, e seria apenas uma manifestação de reacionarismo irado atribuir ao orgulho e à vaidade os motivos para isso. O drama pessoal, quando se torna de interesse universal, é o sintoma de que esse pânico de um dia envelhecer e ter de catar os cacos de uma derrota anunciada já bate em nossa porta e ameaça fazer estragos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pra mim é despeito seu.