quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

o dia do bode ou uma outra forma de se desejar feliz ano novo


O ano é do boi, mas o dia é do bode. De longe, o 1º de janeiro é a data mais tediosa e mais solitária da humanidade. Diria odiosa. É possível encontrar pessoas em cemitérios em dia de finados, ou observar crianças correndo nas ruas e praças com seus brinquedos recém-adquiridos nos dias 26 de dezembro de todos os anos. E a quarta-feira de cinzas, pelo menos no Brasil, há muito não é de cinzas; o povo puxa, estica e leva o Carnaval até o domingo da semana que acaba, varrendo a ex-cinzenta quarta-feira com ela. E a sexta-feira santa é fúnebre, mas há vida dentro das igrejas e cinemas, ainda que escuras. Mas 1º de janeiro é o dia do abandono. Fácil que é. Não tem propósitos, a não ser os que foram feitos na véspera, durante a virada, quando meio mundo começa a elaborar planos, mudanças, reajustar sonhos. Que serão, muitos, colocados em práticas de fato – mas só a partir do dia 2. Ficamos nessa; os que beberam, já acordam com gosto de ressaca na boca – uma bela forma de se começar o ano. Os que não beberam, sentem um outro tipo de ressaca, a moral, dependendo dos estragos do ano anterior. É a hora que se pensa: “mas já? Nem acabamos 2008 e já falamos de 2009?”
Dia 1º de janeiro é o dia da preguiça. O dia da saudade a que se referia Raul Seixas sem citar nomes nem datas precisas. (“Hoje eu vou beber para celebrar o aniversário do seu Gaspar...Hoje é feriado é o Dia da Saudade...”). Até o Carnaval, estamos condenados ao purgatório; mas o dia 1º é o inferno dito e feito, faça chuva ou faça sol. Não vejo lojas nem bares nem supermercados abertos. Fosse qualquer feriado, em qualquer dia da semana, mês e ano, e posso sair de casa a hora que for; posso sentar a qualquer hora em qualquer mesa do Asterix e encontrar repouso e abrigo. Se der fome, tenho o Black Dog, aberto 24horas. Mas não no dia 1º, dia em que não vejo ônibus e que o metrô dá a sensação de que só voltará a circular na próxima Copa do Mundo. Se um dia os senhores me elegerem deputado, essa será a primeira proposta a ser apresentada pela minha pessoa à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara: acabemos com o dia 1º de janeiro. Nesse dia não circulará ônibus, jornais e ninguém sairá de casa. Porque esse dia deixará de existir. Vamos emendar a data: beber às farras no dia 31 e acordar no dia 2, prontos pra começar de novo, e contando com todas as padarias, cafés, bares, livrarias e cinemas com as portas abertas. Só assim será permitido desejar aos senhores um feliz Ano-Novo sem a desculpa de que o jogo só começa após a quarta-feira de Cinzas. Essa que nem sequer existe mais.

Nenhum comentário: