terça-feira, 2 de dezembro de 2008

ainda o fim da Guerra


O céu coberto por uma névoa teimosa emite o primeiro sinal. Não há nada que se esperar do Sol até que este se ponha em seu leito, logo mais. As ações, desde que passaram a ser emitidas por minhas próprias mãos – me dirigir, ainda zonzo, até a chaleira, pôr a água para ferver, acender o dia, colocar o pó no recipiente, tomar banho, vestir o uniforme – tomaram tons inconscientes. Tudo é feito porque simplesmente tem que ser feito.
O pensamento anda longe dali. Longe, dentro de mim. Pouca diferença me faz a manchete do jornal, o PIB que cresceu acima do esperado, a Síria, os deputados.
Hora dessas, basta olhar a internet, tudo estará defasado, antigo, parte do passado. A poucos metros de um apartamento sujo e estreito da Avenida Paulista, as pessoas andam reclamando da renda que não acompanhou a alta dos preços; um sujeito, que não é sírio, acaba de deixar mortos e feridos em nova empreitada; a mãe, que não sabe onde fica o Plenário, aguarda, esperançosa, um transplante ou um milagre para o filho.
Poderia jurar que me comovo com tudo isso. O máximo, porém, que posso fazer por elas é doar alguns segundos de oração. Hoje não haverá tempo para almoço ou chá da tarde. Em meia hora, devo correr para onde dependem de mim. E eu deles.
Antes, um suspiro. Silêncio. Há prazo para aforismos: bom tempo aquele em que, ainda crianças, acordávamos com o Sol na janela e com todo o tempo do mundo para projetar planos e dar fim à Grande Guerra.

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